Como preparar o primogênito para a chegada do irmão(ã)?

Chegada do irmão

19 de março de 2019

Este é o segundo artigo de uma série de quatro, escritos por Flavia Nahom, psicóloga da Educação Infantil do Eliezer Max. Se quiser ler o primeiro, que teve como tema adaptação, clique aqui.

Antes de mais nada,  é muito importante ter a consciência  de que é fundamental contar a novidade da chegada de um irmão(ã), principalmente para crianças a partir de dois anos. Muitas vezes percebemos uma mudança de comportamento da criança na escola, algo que parece sem motivo, e desconfiamos que a mamãe esteja grávida. Quando perguntamos à família, descobrimos que esta é realmente a nova situação. Muitas  vezes nem a mãe sabia da boa nova. Ou seja, as crianças têm uma sensibilidade muito grande e, mesmo que não pareça, sentem tudo o que está acontecendo à sua volta . Espere passarem os três primeiros meses (pela maior chance de perda e a falta da “barriga” evidente) e conte ao seu filho a novidade. Assim, ele já começa sendo incluído desde o início.

Conte de forma calma e tranquila. Tente ter um diálogo coerente com a idade da criança, nem infantilizado demais e nem maduro demais. Perceba suas reações e converse muito com ela. É importante que a criança possa expressar o que está sentindo sem ser reprovada e que possa tirar eventuais dúvidas (como “de onde vêm os bebês?”). Aos poucos, e com diálogo, ela poderá compreender melhor o que isto quer dizer. Se tentar “fugir” da conversa, não force. Você pode dizer algo como: “Tudo bem que você não queira conversar sobre isso agora. Quando quiser conversar com a mamãe ou o papai sobre isso, você pode. Te amamos muito e estamos aqui para ajudar”.

A criança também pode ser incluída de outras formas: pode ajudar a escolher as coisas para o quarto do(a) irmão(ã), as roupas, o nome etc. Mas tome cuidado para não aborrecê-la demais com isso. Vale sempre perguntar se quer participar/ajudar a mamãe e o papai. Se não quiser, respeite.

No primeiro encontro com o mais novo integrante da família é legal que estejam somente os pais e irmãos. O bebê deve ser apresentado e pode-se questionar o que a criança achou. Dar um espaço para se expressar, acolher seus reais sentimentos e comportamentos nesse momento, sem dizer antes o que deveria sentir, é muito importante. Deve-se demonstrar compreensão, mas sem ser permissivo.

Reações de ciúme e atitudes agressivas também podem acontecer e são normais. É muito comum que o mais velho “regrida”, querendo voltar a ser o bebezinho da mamãe. Pode voltar a pedir chupeta ou até mesmo deixar escapar um xixi, mesmo já tendo aprendido direitinho a controlar-se. Também pode fazer birra ou tentar bater no(a) irmão(ã) quando ninguém está olhando. Uma conversa é fundamental. Explicar que ele será o mais velho, que irá ensinar coisas ao(a) irmão(ã), que já faz coisas que o ele(a) não saberá fazer podem ajudar a valorizá-la.

Não recomendamos nenhuma mudança grande neste período. Desfralde, retirada de chupeta, mamadeira, mudança de quarto etc. não devem ser feitos nesse momento. Também vale frisar o quanto a criança é importante para os pais, o quanto é amada e continuará sendo. Parece óbvio, porém nessas situações as crianças podem temer perder o amor dos pais (e tios, e avós etc.).

Quanto mais ele puder participar melhor! Não diga que a criança irá ajudar a cuidar do(a) irmão(ã), pois é muita responsabilidade (e pode até ser considerado chato por ele) e uma obrigação que não é dele. Incentive-o a participar e ajudar com pequenas ações como acompanhar a mãe ao ultrassom, pegar uma fralda, estar perto na hora do banho etc. Eles também devem ter bastante contato. Mesmo quando estiver doente, vale a pena colocar uma máscara, lavar bem as mãos e deixar que toque no bebê.

Aos pais cabe também administrar o tempo entre os dois filhos. Mesmo que o recém-nascido exija muito tempo, dedicação e atenção, lembre-se sempre do mais velho e tente brincar com ele nas horas em que o bebê dormir, ou quando alguém estiver ajudando com o pequeno. Ele precisa ter assegurado seu lugar na família e o amor dos pais. Vale também deixar evidenciado para o mais o velho o tempo que vocês estão dedicando a ele, pois muitas vezes ele só conseguirá perceber o tempo que vocês estão dedicando ao irmão pequeno. Levar à escola, ir à pracinha, brincar só com ele, dar a comida, todos os momentos devem ser elucidados: “Viu, agora a mamãe e o papai estão só com você. Seu(sua) irmão(ã) não está aqui”. Assim ficará mais claro para ele o quanto ainda tem atenção e será mais fácil suportar os momentos dedicados ao outro (também pode ser dito algo como: “A mamãe não foi à pracinha com você? Agora a mamãe precisa ficar um pouco com ele”). As brigas por exclusividade podem até acontecer, mas esteja seguro de esclarecer que a partir daquele momento todos terão que aprender a lidar com essa situação.

Dizer que ele irá brincar com o(a) irmão(ã) é aconselhável, porém com ressalvas. Deve-se deixar claro que neste início, quando o(a) irmão(ã) chegar, será um bebê e precisará de cuidados e que quando crescer um pouco mais, eles poderão brincar juntos. Caso contrário, pode haver uma decepção.

Tome cuidado para não sentir-se culpado e superproteger o mais velho. Não entre nesse jogo, pois depois, quando o mais novo começar a chamar mais atenção, será difícil revertê-lo. Além disso, não é essa a ideia que devemos transmitir a ele (de que tem razão em estar enciumado). Esse equilíbrio entre dar atenção sem exagerar é sempre delicado. Mas, com muita paciência, conversa e amor tudo se acertará. Daqui a pouco o mais velho estará orgulhoso de ter alguém imitando-o e querendo ser como ele!

Flavia Nahon

Psicóloga da Educação Infantil da Escola Eliezer Max

14/01/2014

Referências bibliográficas:

>> “Reino ameaçado pela chegada do irmãozinho”, Cáren Nakashima e Livia Valim, especial para o iG

Em: http://delas.ig.com.br/filhos/reino-ameacado-pela-chegada-do-irmaozinho/n1237801 162220.html

>> “Prepare o filho mais velho para a chegada do irmãozinho”

Em: http://www.mulher.com.br/mae/prepare-o-filho-mais-velho-para-a-chegada-do-irmao zinho