
22 de fevereiro de 2019
Este é o primeiro de uma série de posts no blog, nos quais vamos abordar assuntos que fazem parte do cotidiano das crianças. De autoria de Flávia Nahon, psicóloga do Eliezer Max, os artigos buscarão orientar e esclarecer situações importantes, como a fase de adaptação, o momento do desfralde e a chegada de um irmão. Esperamos que você possa aproveitar esse conteúdo. Boa leitura!
Uma das experiências mais intensas que a criança vivencia é o momento de entrada na escola. Trata-se de um período muito importante, não só para os pequenos como para os adultos, pois introduz muitas mudanças na vida de todos. Representa a entrada em contato com um mundo totalmente novo: cheiros, sabores, ruídos, novos ambientes e pessoas.
As mamães de primeira viagem ficam com o coração apertado quando acaba a licença maternidade e elas têm que deixar seus bebês com outras pessoas. Sentimentos de culpa, tristeza e insegurança são frequentes. A separação é difícil para ambos e cabe ao adulto (geralmente à mãe) ficar forte nessa hora. O bebê, como ainda não se expressa verbalmente, pode chorar, recusar os alimentos ou até ficar doente – e isso é normal. É importante que o adulto converse com o bebê, por menor que seja, e explique a ele (e a si mesmo) os motivos desta atitude: que está fazendo o que considera ser o melhor para eles e que tudo ficará bem. Aos poucos ela perceberá os benefícios da escola para seu filho: o desenvolvimento da linguagem, a convivência social e suas consequências, como aprender a partilhar, a vontade de se comunicar, as amizades que irá fazer, as aprendizagens.
Mesmo as crianças que não estão chegando pela primeira vez, que já eram do Eliezer Max ou de outra escola, precisam se readaptar. Depois de um tempo em casa, sem vir à escola, geralmente vendo mais os pais ou estando com outros parentes como avós, tios, primos, ou até mesmo ficando com a babá, eles acabam se acostumando com a presença desta(s) pessoa(s). Assim, a volta às aulas, para os pequenos do Infantil, sempre requer uma adaptação, ou readaptação!
Já com relação às crianças um pouco maiores, é normal que algumas fiquem manhosas, chorem ou peçam para ficar com os pais (ou ir embora com eles!). A gente sabe como é difícil para alguns ver isso e mesmo assim ter que deixá-los! Às vezes parece um sofrimento enorme, e algumas vezes é mesmo. Mas a boa notícia é que este sofrimento costuma ser passageiro. A maioria das crianças só precisa mesmo de um tempo para se readaptar à rotina. Muitas choram quando estão com os pais, mas basta uma pequena distração, qualquer coisinha que chame sua atenção, que as faça desviar o olhar, que elas logo se esquecem que estavam chorando. Importante ressaltar que algumas crianças não choram, não grudam nos pais e dão até tchau sorrindo! Isso NÃO quer dizer que elas não gostem dos pais, ou que gostem menos! Só quer dizer que cada um é diferente e tem um tempo diferente.
E é aí que tocamos em um ponto fundamental de todo processo de adaptação. Entendemos que a questão central deste processo todo é relativa ao tempo: tempo para que a família conheça a escola, tempo para que conheçamos a criança, tempo para a criança conhecer este novo espaço, as pessoas, as atividades, iniciando em sua vida uma nova rotina.
E para nós, mais importante do que a adaptação ser rápida é que ela se dê de forma confortável para todos, respeitando o tempo de cada um. Inclusive o dos responsáveis!
Geralmente, quando pensamos em adaptação, pensamos nos pequenos, em como eles vão ficar, como vão se sentir etc. Mas sabemos o quanto esta situação difícil para ambos, a criança e o adulto! Os familiares também estão tendo que se adaptar a uma nova realidade. Seu pequeno está crescendo! Eles também terão que se separar e deixar seus filhos em um lugar em que não sabem exatamente tudo o que está acontecendo. Muitas vezes a entrada na creche se dá porque os adultos precisam trabalhar, ou por perceberem que a criança está um pouco “entediada”, buscando mais espaço, e novidades. Neste caso, a escolha do momento para que isso aconteça é, de certa forma, mais da criança do que do adulto. É necessário acreditar que essa, dentre as alernativas possíveis, é a melhor opção para seu bebê, sua criança, seu “tesouro”.
Para isso, confiar no projeto pedagógico da escola, na competência dos profissionais envolvidos, na segurança, nos cuidados com os alunos, será de fundamental importância para a adaptação da criança e da família na escola. Confiar que será um lugar de grande desenvolvimento e aprendizado para seu filho! Reafirmamos também nosso desejo de sermos sempre parceiros, de ter uma abertura bem legal com as famílias. Esperamos que vocês possam nos procurar sempre que preciso e garantimos que o contrário também irá acontecer. Acreditamos que só assim a escola será um ambiente confortável para que as crianças se desenvolvam, cresçam seguras e felizes!
A adaptação no Eliezer Max, na prática:
Consideramos fundamental, como apontamos acima, o respeito ao tempo e às possibilidades de cada criança e responsável que entram na nossa escola. Nesse sentido, realizamos uma adaptação individual, não padronizada, e gradual, em que a separação aconteça de forma confortável para todos os envolvidos. Não podemos esquecer que a equipe e os colegas da turma também estarão se adaptando à chegada de uma nova criança no pedaço.
As atividades realizadas neste momento têm como foco a socialização do grupo e possuem menor duração. Trata-se de um período voltado para exploração do espaço, conhecimento do ambiente e construção de vínculos sociais. O mais importante é que o tempo de permanência da criança na escola seja prazeroso e que a saída seja realizada de forma confortável, para que ela queira voltar no dia seguinte, o famoso “gostinho de quero mais”!
No Eliezer Max normalmente agendamos um horário de entrada e de saída diferenciado para a criança que vai se adaptar. Inicialmente ela ficará pouco tempo e, aos poucos, esse tempo irá se ampliando. Nosso objetivo é que ela possa sentir-se cada vez mais segura e tenha uma atenção maior de quem ficará com ela.
Como a professora está à frente do trabalho pedagógico e precisa dar conta da turma toda, uma auxiliar de turma ocupa-se mais da criança, para poder dar-lhe mais atenção. Até para que os colegas não fiquem com ciúme dela de cara! Mas é claro que a professora estará sempre atenta e buscando envolver e conquistar esse novo aluno.
Pedimos que o responsável pela criança não varie muito ao longo da adaptação, de preferência que seja sempre a mesma pessoa. Não que a mãe ou pai que pode ir só um ou dois dias não deva ir, pelo contrário, será bem-vindo! Mas a mudança frequente de acompanhante pode causar confusão e insegurança nas crianças. Além disso, os adultos também ficam confusos, pois não sabem como foi o dia anterior e, portanto, não sabem até onde podem ir.
Nesse início, o responsável poderá entrar na sala. Pedimos, porém, que sempre indique à criança a atividade que está sendo realizada e sempre a estimule a buscar o professor ou a auxiliar. Também é legal deixar por nossa conta as trocas de fraldas, alimentações e resoluções de eventuais conflitos. Assim poderemos construir vínculo e nos tornar referência para eles. Não se preocupe, a figura do responsável sempre será a principal referência. Sinta-se à vontade para levar um livro ou uma revista para ler na sala! Assim a criança irá perceber que você não está com a atenção voltada para ela…
Aos poucos iremos instruir o adulto a esperar fora da sala, em algum lugar aonde possamos ir chamá-lo quando necessário. Esse lugar vai tornando-se cada vez mais afastado, conforme a criança dá indícios de que suporta um afastamento maior. Você poderá ficar na cantina, na biblioteca, depois poderá dar uma volta no quarteirão, até poder ir embora. O “chorinho” nesse momento inicial de afastamento é normal e frequente. É necessário suportá-lo e confiar que, caso a equipe sinta que a criança está mesmo precisando dos pais, não hesitará em chamá-los. Sabemos diferenciar o choro de uma certa manha, de quem está buscando o conhecido e o choro de quem está sofrendo, angustiado. Aos poucos ela passa a se sentir segura naquele ambiente e com aquelas pessoas. As carinhas passam a ser conhecidas e familiares.
Mais uma vez frisamos: não temos pressa em concluir a adaptação! Temos um desejo enorme que ela se dê da melhor forma possível para todos. Contamos com a colaboração dos familiares para isso. E fique tranquilo! Toda criança se adapta! Com seu filho não será diferente.
Flavia Nahon
Psicóloga da Educação Infantil